Essa foto aí foi do dia que eu, com muito orgulho, virei uma imbecil, idiota útil. Foi bem difícil chegar à universidade pública, principalmente vindo de uma vida inteira na escola pública de uma cidade pequena e tendo que disputar minha vaga com estudantes que a vida inteira estudaram em boas escolas particulares (na minha época não existiam cotas). 7° lugar no vestibular do curso que eu sempre sonhei em fazer.
Mas ao chegar a universidade a realidade não era exatamente aquela que eu imaginava, era tudo bastante precário, a gente contava com o empenho dos professores que se esforçavam para minimamente conseguir dar aulas tendo luz na sala de aula. Os computadores não tinham programa de edição. A gente tinha que entregar trabalhos como jornais impressos pagos do nosso bolso, reportagens em vídeos, documentários, tudo por conta própria, contando com a boa vontade dos 30 dias gratuitos para teste dos programas de edição ou contar com algum amigo que dava uma pirateada, porque a licença é caríssima. Fazer o que, era aquilo ou nada.
Pra quem diz que não havia protesto antigamente ou tem memória curta, ou nunca acompanhou a realidade de uma universidade pública. Todo mês a gente enterrava o curso no jardim de inverno da Unicentro. Fechava a rua pra ver se consertavam as goteiras da sala de aula. A gente lutava pelo básico. A balburdia ou festas que a gente fazia, como todo jovem de 18/20 anos, muitas vezes era pra arrecadar fundos para o curso. Nunca foi dentro da Universidade. Também nunca usei drogas e nem andei pelada por aí. As coisas foram melhorando um pouco com o passar dos anos, quem entrou depois de mim encontrou um local mais receptivo, porém também com muitas dificuldades.
Naquela época era difícil ver pessoas tendo oportunidades de estudar, buscar um futuro melhor. Eu tive o privilegio de não precisar trabalhar e estudar. Minha irmã mais velha acordava 5 da manhã pra fazer esfihas pra vender e conseguir fazer seis meses de cursinho e me dar o exemplo de que alguém como nós poderia entrar na universidade pública e gratuita. Assim como eu fui exemplo pra minha irmã mais nova que se formou na universidade pública e foi mais longe, tem mestrado na universidade federal.
Hoje, 15 anos depois, de volta universidade publica pra cursar o MBA que eu sonhava há tempos, vejo ainda muitas dificuldades. A UEL é uma das melhores universidades do estado, mas o banheiro não tem assento, o mato ta alto, algumas luzes queimadas e um ar-condicionado que faz tanto barulho que não dá nem pra ouvir o professor. E pasmem: os computadores ainda não programas de edição. E vocês sabem o que o pessoal da balburdia faz? Campanhas para economizar energia, separação adequada do lixo, para diminuir os custos discricionários e sobrar alguma verba pra melhorar o ensino.
Mesmo com tudo isso, as universidades públicas produzem 90% da pesquisa no país, o Brasil está na 13° posição na produção cientifica global. Das 20 universidades que mais publicam, 15 são federais e 5 estaduais. São essas pessoas que produzem as vacinas, os remédios, a comida na nossa mesa, a energia que chega as nossas casas e o celular que usamos. Por isso eu fico muito, mas muito triste em ver essa demonização dos professores e estudantes, gente que nunca pisou numa universidade pública mandar analisar a conta dos reitores que se viram em mil pra trabalhar com um orçamento que já pequeno e vem sofrendo cortes ano a ano. Gente compartilhando imagens de outros países e dizendo que são nas instituições brasileiras. Divulgando teses de mestrado e doutorado absurdas que nunca existiram para criar uma onda de desinformação para justificar essas atrocidades contra a educação.
E para honrar todos os meus diplomas, conquistados com muita balburdia do bem, é que to junto nessa luta pela educação pública. Me orgulho daqueles que se formaram comigo e ver como estão bem colocados no mercado e podendo dar aos seus filhos aquilo que nunca puderam ter. De dar aos meus filhos aquilo que eu nunca tive. Agradeço aos meus pais que muitas vezes deixaram de pagar uma luz para me mandar dinheiro para comer, pagar o aluguel ou o ônibus.
Se você leu até aqui talvez já saiba disso tudo que to falando (provavelmente). Se você não sabia, então coloca a mão na consciência e pare de endeusar políticos e compartilhar mentiras sobre a educação brasileira, que apesar de precária, teve avanços significativos. Não permita que tudo isso se acabe por mero ego. Nos ajude. Vem pra luta, que também é sua, dos seus filhos, dos seus netos.
Obrigada escola e universidade pública por me proporcionar uma vida melhor. Obrigada ao meu marido e meus filhos que seguram a barra e me apoiam para continuar realizando meus sonhos. Obrigada pai e mãe por sempre me darem suporte pra chegar até aqui.
Graziella Curti se formou em jornalismo na faculdade Unicentro de Guarapuava-Pr

Silvio Rodrigues – Editor/Fundador do Site Portal Londrina